segunda-feira, 18 de outubro de 2010

As bruxas e o Pinheiro Real

As bruxas são um elemento fantástico que faz parte do imaginário da nossa cultura. Pegando na data de 31 de Outubro, que nos está próxima, e que é conhecida popularmente pela “Noite das Bruxas”. É celebrada essencialmente nos povos saxónicos, no entanto, não são apenas eles que têm bruxas.

As bruxas fazem parte integrante do nosso dia-a-dia. Uma bruxa na nossa cultura é vista como
 “uma vizinha idosa, que «lança mau olhado» e pactua com o diabo. (…) são mulheres que ultrapassam os 50 anos, isoladas, solteiras, coléricas, «que não gostam de crianças». As narrações atribuem-lhe dupla personalidade: durante o dia levam uma vida normal, mas compelidas pelo seu instinto a «deitar mau olhado», a matutar nos malefícios sobre as pessoas ou os bens dos vizinhos. De noite encontram-se nas encruzilhadas, de onde partem depois, «com uma luz no traseiro», para um sítio ermo (…), onde as espera o Diabo, com quem celebram orgias e tramam os malefícios do dia seguinte.” (Santo, 2000: 164).

E muito mais poderia aqui discorrer sobre as características das bruxas. São personagens extremamente ricas, e, como lá diz o povo, “eu não acredito em bruxas, mas que as há, há!”.

Em Paço dos Negros podemos encontrar um elemento que está intimamente ligado às bruxas. É o conhecido Pinheiro Real. Esta árvore, de proporções descomunais, mesmo para um pinheiro e onde, segundo M. Evangelista (2004), às terças e sextas se encontravam as bruxas. Neste local praticavam os seus rituais, sendo que daqui iam “correr as sete vilas acasteladas: - aboa aboa por cima de toda a folha”, era a fórmula que tinham de pronunciar.
Pinheiro Real, 2005


 O Pinheiro Real é que, coitado, já conta com uma idade bem avançada. A morte ronda-o. A última vez que o visitei, já em 2010, estava a secar. Tenho fotos de 2005 em que já se previa esta situação. Possivelmente, a praga de eucaliptos que o rodeou durante muito tempo a isso ajudou. Cumprindo aqui o papel do Velho do Restelo, a quem cabe apregoar desgraças, os eucaliptos são uma praga com a qual temos de ter cuidado. As suas raízes chegam longe, e sugam os nossos recursos aquíferos a uma boa velocidade. Longe de ser especialista no assunto, a falta de água que nos começa a assolar, deve-se em parte a esta propagação de árvores de “lucro fácil”. E com isto se está a perder um elemento da identidade de Paço dos Negros.

Pinheiro Real, 2010


Obras citadas:

EVANGELISTA, Manuel (2004). Lendas da Ribeira de Muge. S/l: Ed. Junta de Freguesia de Fazendas de Almeirim e Junta de Freguesia de Raposa.


SANTO, Moisés Espirito (1980). Comunidade Rural ao Norte do Tejo. Lisboa: Edição da Associação de Estudos Rurais.