domingo, 24 de fevereiro de 2013

Percurso Pedestre Verde – Herdade dos Gagos



A Herdade dos Gagos tem marcados três trilhos pedestres, assinalados por cores. Aquele que está aqui em questão e o trilho verde, com cerca de 5.5Kms, com uma duração de pouco mais de uma hora (apesar destas durações serem variáveis, conforme o passo a que se vai). 


O percurso parte do Vale D’Água, e descreve um “8”, ou seja, há uma altura em que se passa por um sítio onde já se passou uma primeira vez, que está representado na figura abaixo. Poderá gerar alguma confusão, visto que há duas placas juntas. Contudo, poderá permitir que não queira fazer todo o percurso, fazer apenas a zona mais baixa. 


Ao longo do percurso poderão ser visíveis rastos de javalis, assim como patos-bravos, sobretudo num ponto de água, aproximadamente a meio do percurso. 


Um grande senão que ele tem são as placas quebradas, como a da imagem abaixo. É preciso ir com atenção, para que quando não se sabe muito bem a direção a tomar, procurar uma placa no chão, que ela andará por lá, com certeza. 


Por fim, a última imagem apresenta o perfil altimétrico. Existe um declive um pouco mais acentuado, já na fase final, a descer para a estrada que corre paralela à Ribeira de Muge. Tirando isso, podemos considera-lo um percurso de fácil realização. 


domingo, 17 de fevereiro de 2013

A Ribeira de Muge no primeiro mapa de Portugal








O primeiro mapa de Portugal continental, apesar de algumas controvérsias em torno deste e do seu autor (Fernando Álvares Seco), transmite-nos alguma informação sobre a zona que a que nos temos dedicado em termos de investigação: o médio curso da Ribeira de Muge, delimitado a montante pela afluente Ribeira do Chouto e a jusante pela afluência da Ribeira da Lamarosa. 

Mapa de Portugal de Álvares Seco - Fonte: BNP online
  
Contudo, importa ter em consideração que a primeira edição deste mapa data de 1561, em Roma. Foi dedicado a um cardeal (Guido Sforza), daí ter as dioceses delimitadas. Contudo, os autores que lemos apontam como provável a sua utilização para fins militares, devido a uma apresentação da linha da costa com bastante rigor, assim como da rede hidrográfica e das pontes. Pegando sobretudo nestes últimos aspetos, podemos estabelecer algumas análises e levantar algumas questões em torno da Ribeira de Muge.

Em primeiro lugar, importa ter em consideração que o mapa foi elaborado, possivelmente, com base em vários relatos que existiam sobre viagens feitas, descrição de locais, entre outros. Os itinerários de Fernan Colón (elaborados possivelmente entre 1517 e 1523), são apontados como um dos documentos que podem ter sido a base para a elaboração do mapa, e têm descrições da região de Almeirim. Talvez isso possa contribuir para que a zona não tenha muitos erros ao ser grafada no mapa.

Mapa de Álvares Seco (pormenor) - Fonte: BPN online

Ao observarmos a zona em questão, podemos tentar estabelecer algumas ilações e tentar levantar algumas questões, nomeadamente:
·         * Conseguimos ver representada a Vila de Muge, então sede de concelho.
·         * Entre o desaguamento da Ribeira de Muge no Rio Tejo e a confluência da Ribeira da Lamarosa com esta surgem duas pontes. A primeira será, certamente, a Ponte Romana de Muge, que ainda hoje existe. E quanto à segunda? Estará representada no sítio correto? Não ficaria junto à localidade da Raposa, já no Termo de Santarém? Ou não poderá também ser o pontão, referido que existia junto a um moinho doado por D. Sebastião aos frades do Convento da Serra?
·         * Indo a “navegar” na ribeira de jusante para montante, encontramos após a Ribeira da Lamarosa, na margem esquerda, um topónimo “Moinh os de Gs”? – será “Moinhos do Gomes”? Nesse caso, estará a referir-se ao Moinho do Gomes, construído em 1459 por Gomes Eanes, mas na margem oposta? Ou será um qualquer engenho (ou conjunto de engenhos) que à época tiveram uma grande importância por qualquer fator por nós desconhecido, e que na cartografia do séc. XIX aparece referido como o “Moinho do Diego”?
·         * “Paços da Serra”. Outro topónimo que, pelo nome em si, se diria ser o Paço Real da Ribeira de Muge. Contudo, a sua localização no mapa parece-nos ser mais a do Convento de Nossa Senhora da Serra. No entanto, foram várias as relações estabelecidas entre estes dois locais desde o séc. XVI, tendo inclusivamente o Paço Real sido designado precisamente por Paços da Serra. Para além disso, há que ter em consideração que não há um forte rigor geográfico neste mapa, nomeadamente ao nível da escala.
·         * No curso da ribeira surge uma ponte. Será a célebre Ponte Romana localizada perto da confluência da Ribeira da Calha (não representada no mapa) com a Ribeira de Muge, junto à Herdade da Ponte Velha? Estaria essa mesma ponte ainda transitável nesta época? Nesse caso, teremos de ter em conta que os “Paços da Serra”, caso sejam realmente o Paço da Ribeira de Muge está erradamente representado, visto que se situa a montante da ponte romana e não a jusante. 

Vestígios da Ponte Romana na Ponte Velha - Foto de Manuel Evangelista

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Moinhos dos Palha



Esta é uma designação com a qual podemos abarcar um conjunto de três engenhos, cujos registos mais antigos que temos conhecimento remontam ao início do séc. XVI, mais propriamente a 1511, quando D. Manuel I mandou construir uma residência de caça algures nas charnecas entre Almeirim e Coruche. Junto ao sítio onde seria essa residência de caça existiam três moinhos, pertença de Vasco Palha e Francisco Palha (pai e filho), que os doaram ao monarca, em troca de 10 moios anuais de trigo. Eram conhecidos respetivamente como o Moinho de Cima, do Meio e de Baixo (ou Derradeiro).



1 – Moinho de Cima, do Paço ou da Pinheira

O único dos três que já desapareceu. Situava-se junto aos canteiros de arroz, perto de uma pinheira de enormes dimensões que há alguns invernos atrás foi derrubada, onde ainda hoje se podem ver alguns resquícios de construções.
Teve como proprietários (seja em regime de aforamento ou arrendamento), Luís Vaz (1545), Paulo Soares da Mota I – almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge (c. de 1700) e sua esposa, D. Josefa Maria, após a sua morte. Em 1719 é vendido a António Roiz por 180 000 réis. Na “Planta das Terras de Almeirim” surge como o “Moinho do Desembargador”. Trabalhou até ao início dos anos 40 do séc. XX, tendo tido como últimos moleiros José Teso e António Teso.
Apesar de ser recordado como tendo dois casais de mós, a documentação do séc. XVIII refere que existiam três. 

Aviador, Moinho do Pinheiro 

2 – Moinho do Meio, do Pinheiro ou do Bento

Este engenho estava degradado em 1545, tendo sido aforado a Diogo Lopes, com a obrigação de o reconstruir e pagar de foro a quantidade de 20 alqueires de pão meado. Em 1722 já é designado por “Moinho do Pinheiro”. Em 1805 é herdado por Paulo Nogueira Pina Manique de seu pai, o Intendente Geral, Diogo Inácio de Pina Manique.
É ainda hoje também conhecido por “Moinho do Bento”, devido ao seu último moleiro, Bento Ventura. Aqui também foram moleiros Manuel Teso e José Teso.
A nível tecnológico, este é um moinho de rodízio, com quatro casais de mós graníticas. Possui um aviador, instrumento utilizado na limpeza dos cereais, mais evoluído que a tarara. 

"Bico" entre as grelhas dos tubos de pressão, no açude do Moinho da Ponte Velha.

3 – Moinho de Baixo, Derradeiro ou da Ponte Velha

O nome de “Moinho Derradeiro” advém precisamente por ser o último dos três no curso da ribeira. Em 1536 o moinho caiu, tendo Luís Mota, almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge, solicitado ao rei o aforamento do engenho sem pagar coisa alguma, o que o monarca aceita. Em 1536 é doado a outro almoxarife do paço, Estevão Peixoto, durante a sua vida, igualmente sem pagar nada, mas com a obrigação de o manter operacional.
Na década de 1720 o moinho está aforado a Leonarda Maria, juntamente com outros três moinhos, sendo referida uma redução do foro de 15 alqueires de trigo e 15 de cevada, por este se encontrar bastante degradado. Quanto aos outros moinhos, um sabemos que era o Moinho da Várzea, de que já falamos anteriormente, e outro não sabemos qual. No entanto, devemos realçar que tanto este engenho como o da Várzea têm a construção dos açudes igual, fazendo um bico entre as grelhas dos tubos de pressão. Datará esta construção de quando Leonarda Maria era sua proprietária?
À semelhança do Moinho do Pinheiro, este engenho faz também parte da herança que Paulo Nogueira de Pina Manique recebeu de seu pai. Parou de funcionar no final dos anos 70 do séc. XX, sendo que nos seus últimos anos de atividade servia essencialmente para o descasque de arroz. Os seus últimos proprietários, enquanto engenho em funcionamento foram Custódio Santigo, e posteriormente seu filho, Manuel Santiago. Quanto aos moleiros, foram Bento Ventura e posteriormente, até parar, Anastácio Silva.
A nível tecnológico, é um moinho de rodízio, comquatro casais de mós graníticas (as utilizadas para o descasque de arroz).