terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Exposição temporária no MNAA: Rubens, Brueghel e Lorrain: A paisagem Nórdica do Museu do Prado

“Boda Campestre”, de Jan Brueghel, o Velho.
Este episódio relata um casamento, cujo cortejo virá do centro da aldeia, e irá para a entrada do templo onde irá ocorrer a cerimónia. O cortejo é constituído sequencialmente por um tamborileiro, pelo noivo, homens de ambas as famílias, músicos, mulheres, a noiva, e assim por diante. O templo ocupa a centralidade da tela, contudo vai propagando-se a pormenorização a vários elementos da paisagem, como as árvores.

Está patente no Museu Nacional de Arte Antiga uma exposição denominada “Rubens, Brueghel e Lorrain: A Paisagem Nórdica do Museu do Prado” até 30 de Março. É uma oportunidade única de visitar em Lisboa obras de grandes mestres da pintura do séc. XVII. A exposição estende-se a outros pintores para além dos mencionados no título e conta com um total de 57 pinturas de paisagem flamenga e holandesa, que fazem parte exclusivamente do acervo do Museu do Prado.

“Paisagem com Moisés salvo das águas”, de Claude Lorrain
É uma paisagem vertical, que retrata um tema bíblico (a recolha de Moisés, em bebé, no Nilo). Era um tema com uma grande tradição, contudo Lorrain dar-lhe-á uma nova leitura. Não são as margens exóticas do Egito, mas sim uma paisagem bucólica e verdejante, com um pastor a dormir. De salientar que o céu ocupa cerca de dois terços pintura, levando a que seja dado uma maior importância ao horizonte e à própria paisagem.

É considerada pelos italianos “paisagem nórdica” aquela que fica para lá dos Alpes, ou seja, a Holanda e Países Baixos. Até aqui, a pintura era essencialmente figurativa e a paisagem é meramente acessória. A partir daqui, poderemos assistir a uma transformação desta conceção, passando a paisagem a poder ocupar o lugar primordial da pintura. A parte narrativa da pintura ocupa uma parte não muito substancial desta, passando o envolvente a tomar mais espaço e mais expressão. Com uma alta densidade pictórica, e altamente pormenorizada, será uma exposição para poder ser apreciada com tempo.

“Ato de Devoção de Rodolfo I de Hasburgo”, de Peter Paul Rubens e Jan Wildens
Esta é uma pintura que pretende transmitir a religiosidade de Rodolfo I. Este encontrava-se a caçar com o seu escudeiro, e ao cruzarem-se com um padre e o sacristão que levavam o sagrado viático a um pobre, cedem-lhes as suas montadas. Com uma dimensão humorística, patente no facto do sacristão não estar habituado a montar e revelar dificuldades em se equilibrar em cima do cavalo, assim como os cães se encontrarem a urinar. Há ainda a dimensão da vida para a morte, que vai da parte esquerda para a direita: vemos as próprias árvores que vão perdendo vida.

Do ponto de vista técnico, esta é uma exposição bastante bem preparada. As 57 obras foram espalhadas por nove núcleos temáticos (a montanha, a vida no campo, a paisagem de gelo e neve, o bosque como cenário, entre outros). Para acompanhar a exposição, foi feito um folheto com informação clara e sucinta. Para a complementar, foi criado um catálogo, que permite levar a exposição para casa. Com 177 páginas, a cores e com uma gramagem considerável, impresso em papel couché, com uma boa análise artística. Ainda mais, há uma série de merchandising sobre a exposição, que vai de canecas a postais, marcadores de livros ou blocos de notas. Foi ainda criado um site (aqui), onde é possível ter mais informações sobre a exposição, por um lado, e poder acessar frequentemente a notícias sobre esta, que aqui são reunidas. Para além disto, há a salientar a escolha sempre da mesma imagem para a construção da imagem da exposição: a tela de Pieter Paul Rubens, Atalanta e Meleagro caçando o javali de Cálidon, reproduzida abaixo. Como a aspeto menos positivo, há a destacar as tabelas, que poderiam ter uma fonte maior.

Atalanta e Meleagro caçando o javali de Cálidon”,de Peter Paul Rubens.
Esta pintura tem a particularidade de ter sido pintada por Rubens por deleite do autor e não por uma encomenda que lhe tenha sida feita. É uma obra enorme e que nos sentimos impressionados na sua presença. Mais escura que outras do autor, o espaço narrativo ocupa apenas cerca de um terço da tela, levando a que o bosque que constitui a paisagem ocupe a maior parte dela.

Bibliografia:

KUBISSA, Teresa Posada (2013). Rubens, Brueghel, Lorrain: A Paisagem Nórdica do Museu do Prado. Lisboa: Ed. Museu Nacional de Arte Antiga e Imprensa Nacional da Casa da Moeda. 

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