segunda-feira, 7 de abril de 2014

IV. Os moinhos ligados ao paço – nos 500 anos da conclusão do Paço Real da Ribeira de Muge

Indo na sequência da apresentação de um tema por mês neste ano de 2014 relativo ao Paço Real da Ribeira de Muge, neste dia 7 de abril, Dia Nacional dos Moinhos, apresentamos os moinhos que, de alguma forma, estiveram ligados a este local.

Carta militar – extrato da zona envolvente ao paço, com todos os engenhos assinalados.

Aquando a da sua visita, em abril de 1511, aos terrenos onde se estava a iniciar a construção do paço, doados por Francisco e Vasco Palha ao rei, Pedro Matela (Contador de Santarém), menciona a existência de três moinhos neste local. Estes moinhos, posse dos Palha, são igualmente doados ao rei, concedendo-lhes ele uma tença de dez moios de trigo anuais em retribuição. Um destes engenhos ficava junto ao paço (já desaparecido) e os outros dois mais abaixo. São estes os que chegaram aos nossos dias como o Moinho do Pinheiro (ou Moinho do Meio, no séc. XVI) e o Moinho da Ponte Velha (ou Moinho Derradeiro, à época).

Em 1518 é titular do ofício de almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge Antão Fernandes. Este recebe por parte do rei o direito de construir um moinho em qualquer lugar que lhe conviesse no Vale João Viegas. Em 1537 o Moinho da Ponte Velha  é aforado a Luís da Mota (3.º almoxarife), sem pagamento de renda, uma vez que o engenho ruíra no ano anterior e este se comprometia a mante-lo operacional. A cedência gratuita deste engenho volta a ser atribuída ao almoxarife do Paço em 1546, com a incumbência de o manter operacional. O cargo era ocupado pelo genro de Luís da Mota, Estevão Peixoto. Esta doação é confirmada em 1568 por D. Sebastião.

Últimos destroços do moinho que se encontrava próximo da cerca do pomar real. Foto de 2006.

Por volta de 1700 seria o moinho que se encontrava junto da cerca do pomar real propriedade do almoxarife do paço Paulo Soares da Mota I. Após a sua morte, passou para a sua mulher, Josefa Maria.

Chegaremos ao início do séc. XX com cinco moinhos nas imediações do Paço Real da Ribeira de Muge (três na Ribeira de Muge e dois no Vale João Viegas), e Manuel Francisco Fidalgo como proprietário do paço e dos dois engenhos situados no Vale João Viegas. Estes eram designados por “minholas”, em virtude de serem engenhos de pequena dimensão, com apenas um casal de mós. Uma das “minholas” seria, possivelmente, o moinho construído por Antão Fernandes, no séc. XVI. Contudo, o que é facto é que uma delas foi herdada por Manuel Francisco Fidalgo da sua sogra, Guilhermina Moreira.

Carta militar da zona do paço. A vermelho dos moinhos que já desapareceram e a verde o Moinho do Fidalgo. A azul e tracejado, a possível localização da cerca do pomar real.

Quanto aos outros três engenhos, encontravam-se nesta época já na posse de outros proprietários, estando já desafetos ao paço. Hoje existem ainda dois (já parados), e daquele que se situava mais acima no curso da ribeira, desapareceram as suas últimas ruínas recentemente.

Para poder obter um rendimento superior ao que tinha com as suas “minholas”, Manuel Francisco Fidalgo mandou edificar um outro engenho, já próximo da sua casa, sob um tanque que em tempos tinha abastecido o paço de água. É o Moinho do Fidalgo, que chegou aos nossos dias junto às ruínas do Paço Real da Ribeira de Muge, sendo o mais “jovem” elemento da construção. As duas “minholas” já desapareceram.

Moinho do Fidalgo, na atualidade.

Quanto ao Moinho do Fidalgo, atravessou todo o séc. XX, cumprindo a sua função até aos anos 80. Conta com cinco casais de mós, tendo sido mecanizado em meados da centúria, levando a três casais de mós fossem adaptados a um motor a diesel. Foi primordial a sua atividade no período de racionamento imposto pelo regime salazarista durante a Guerra Civil de Espanha e a 2.ª Guerra Mundial. Este contrabandeou a produção de farinha e o descasque de arroz durante este período, tornando-se vital para o abastecimento destes géneros alimentares às populações dos locais mais próximos.

Bibliografia e outras fontes:
EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.
Jesuína Fidalgo (fonte oral).
Manuel Cipriano (fonte oral).
Manuel Fidalgo (fonte oral).
TOMÉ, Samuel (2012). “Moinho do Fidalgo: a conservação de uma (i)materialidade”, Molinologia Portuguesa, n.º4. S/l: Etnoideia.
TOMÉ, Samuel (2012). O Património Molinológico como fator identitário e vetor do desenvolvimento económico: o caso da Ribeira de Muge. Dissertação de Mestrado em Gestão e Programação do Património Cultural apresentada à Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

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