quarta-feira, 11 de junho de 2014

Personalidades sepultadas no Convento da Serra – nos 500 anos da sua fundação

As sepulturas no interior das igrejas são uma constante ao longo da nossa história, até ao séc. XIX, quando se começa a fazer isso em cemitérios. Contudo, nem todos teriam direito a uma lápide, estando esse privilégio reservado aos mais ricos. Acreditando que este seria um local de sobeja importância e peregrinação no séc. XVI, assim como pelo facto de a corte estanciar muito por Almeirim nesta época, esta seria uma casa procurada também para esse fim. Encontramos notícia da existência de cinco sepultamentos neste local.

O primeiro que podemos mencionar é o de Diogo Vaz Ronquilho. Por outro lado, datado de 1543, sabemos que aqui foi sepultado Fernão Soares. Em 1554 é sepultada na igreja deste convento Beatriz Fernandes. Sobre estes três ocupar-nos-emos dentro em breve, visto que as suas lajes sepulcrais chegaram ao séc. XXI.

Reconstituição da configuração da parte do Paço Real da Ribeira de Muge que é atribuída como sendo a Casa do Almoxarife (entre o pórtico e a capela), cargo de nomeação régia, que foi exercido por Estevão Peixoto. Aguarela de Maria Nélia Castelo.

Estevão Peixoto, moço da câmara de D. João III e posteriormente almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge (nomeado em 1536), redige o seu testamento a 25 de março de 1574, onde manifesta a sua vontade em ser sepultado no Convento da Serra. Com toda a certeza que a relação estabelecida entre os dois lugares, a que aludimos aqui, não foi estranha a esta escolha de Estevão Peixoto. Foi cumprida a sua vontade, tendo sido sepultado, segundo Vasconcelos (1926), no claustro do dito convento, junto à sacristia, tendo a sua laje sepulcral o seguinte epitáfio: “DE ESTEVÃO PEIXOTO E SUA MOLHER ISABEL DA MOTTA”.

Estevão Peixoto foi o quarto titular do ofício de almoxarife do Paço Real da Ribeira de Muge. Apesar de ser nomeado em 1536, já exercia o cargo desde 1535, desde a morte do seu sogro. Não sabemos quando morreu, mas apenas sabemos que o almoxarife seguinte (Duarte Peixoto, seu filho), foi nomeado em 1574. Contudo, seria possível que já exercesse o cargo há algum tempo, desde a morte de seu pai. Para além disto, o testamento de Estevão Peixoto deixava ainda um legado ao Convento da Serra para que fossem rezadas 50 missas anuais. Este tributo deixa de ser pago por João Rodel Figueira (seu bisneto, sétimo almoxarife do paço, nomeado para o cargo em 1644).

Já no séc. XVII, sabemos que D. Fernando de Mascarenhas (Conde da Torre) morre a 9 de agosto 1651 e é enterrado no Convento da Serra. Houvera sido, entre outros importantes cargos, governador e capitão geral da cidade de Ceuta (1624-25) e Tânger (1628-1637), assim como presidente do Senado da Câmara de Lisboa.

Para além destes, como referimos, acreditamos que tenham sido sepultados muitos outros notáveis do reino no Convento da Serra.

Bibliografia:
CUSTÓDIO, Jorge (2008). Almeirim – Cronologia. S/l: Edições Cosmos.
EVANGELISTA, Manuel (2011). Paço dos Negros da Ribeira de Muge: A Tacubis Romana. S/l: Edição do autor.
VASCONCELLOS, Frazão de (1924). “A Sepultura de Fernão Soares, pagem do livro del-rei Dom João III existente no Convento de Almeirim”, separata da publicação Arqueologia e História. Lisboa: Tipografia do Comércio.
VASCONCELLOS, Frazão de (1926). “O Paço dos Negros da Ribeira de Muge e os seus almoxarifes”, separata da publicação Brasões e Genealogias. Lisboa: Tipografia do Comércio.


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