sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Como Interpretar e Valorizar o Património - Sessão Técnica na Escola de Hotelaria de Fátima - Parte IV

5. Turismo Cultural – uma alavanca para a valorização do património
Podemos entender por turismo cultural:
Aquele que é realizado por uma pessoa que se desloca por mais de um dia do seu lugar habitual de residência...
...por uma motivação cultural (conhecer bens patrimoniais, novas culturas, participar em eventos culturais, viagens para estudar a arte ou o folclore, etc.)...
...com um consumo de prestações de tipo cultural e de serviços de transporte, alojamento e restauração.

5.1. Tipos de Turismo Cultural

5.2. Capital Europeia da Cultura
A Capital Europeia da Cultura é um evento europeu que pretende colocar no mapa, durante um ano, uma cidade, em que tudo, a nível cultural, acontece. É um grande potenciador de receção de turistas, e há uma grande valorização das cidades e do património, para receber os visitantes, e que fica para depois da realização do evento.

5.3. Receção aos turistas
A receção ao turista é algo bastante importante, a todos os níveis, e o cultural não é exceção. Deve de existir um folheto, preferencialmente um mapa do local em questão, com qualidade não tanto de material, mas de conteúdos. O texto deve dar informações básicas sobre as atrações e deve ser sucinto.
Depois, poderá existir um nível de informação mais desenvolvido, uma brochura ou um livro, e que já deverá ser pago (contudo, deve ter-se em atenção os preços praticados – devem estar minimente adaptados ao que se está a vender).  


Em conclusão:

A melhor maneira de conservar o património é vivê-lo! 

Ver parte I aqui.
Ver parte II aqui.
Ver parte III aqui. 

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Como Interpretar e Valorizar o Património - Sessão Técnica na Escola de Hotelaria de Fátima - Parte III

4. O tratamento do Património
4.1. Classificações oficiais
Sobre este tema, caiba a referência que ao longo dos tempos se alteraram constantemente as designações das classificações, sobre dos Monumentos de Interesse Municipal (que já foram Imóveis de Interesse Municipal e Imóveis de Valor Concelhio) e dos Monumentos de Interesse Público (que já foram Imóveis de Interesse Público).

4.1.1. Monumento de Interesse Municipal
São bens que têm um grande interesse sobretudo à escala local, isto é, não têm grande relevância no panorama nacional, contudo, têm uma forte importância a nível local, pelas mais diversas razões. Por esta razão, são classificações atribuídas pelos municípios. A existência de bens com esta classificação nos municípios está dependente da sensibilidade para as questões patrimoniais de quem os gere, e não tanto da existência ou não de património nos territórios.


Um exemplo poderá ser a Capela do Calvário, no concelho de Almeirim, que é um marco nas celebrações religiosas da Semana Santa na cidade. Por outro lado, podemos mencionar a Casa de Manuel Vieira Natividade, em Alcobaça, que marca o local onde viveu uma importante personalidade desta localidade do início do séc. XX.

4.1.2. Monumento de Interesse Público
Esta classificação é dada pelo poder central, neste momento pela DGPC, organismo estatal responsável pelo património nacional. Alguns exemplos que poderemos apontar serão o Pelourinho de Porto de Mós, uma Janela Manuelina, em Santarém, ou os Frescos de Santo Agostinho e de Santo Ambrósio, na Capela de Nossa Senhora da Conceição, concelho de Ourém. Sobre estes últimos, torna-se importante mencionar que a classificação é apenas dos frescos, e não da capela.

     

4.1.3. Monumentos Nacionais
Esta é a mais alta classificação atribuída pelo estado Português. Numa primeira fase da consciência patrimonial, sobretudo durante a Primeira República e o Estado Novo, era atribuída sobretudo aos grandes monumentos, associados aos grandes feitos da nação. São exemplos deste período o Castelo de Ourém ou a Torre das Cabaças, em Santarém.

Com o advento da nova consciência pelos bens patrimoniais, passaram a ser mais apertados os critérios de classificação, passando os bens que detêm esta classificação a ser conhecidos pela sua singularidade e importância coletiva. A recentemente classificada Sé de Leiria, juntamente com a Torre Sineira e a Casa do Sineiro, tem como particularidade o facto da Torre Sineira estar fisicamente separada e ainda relativamente distante do edifício principal da Sé. Apesar de não ser o fator determinante, foi este um dos aspetos que marcou a classificação deste edifício na cidade de Leiria.

4.1.4. Património da Humanidade
As classificações como Património da Humanidade são dadas pela UNESCO, organismo da ONU. São bens excecionais, para a humanidade, e que gozam de proteção internacional. Em Portugal existem 14 bens com esta classificação (entre culturais, naturais e mistos), aos quais se junta o Fado, como património imaterial da Humanidade. São exemplos, entre outros, os Mosteiros de Alcobaça e da Batalha e o Convento de Cristo, em Tomar.


4.2. Instituições que tratam e divulgam o património
4.2.1. Museu
O Museu é um lugar onde está exposto um determinado espólio. Esse mesmo espólio, pela maneira como é apresentado, um discurso ao visitante. A principal missão do museu é conservar, estudar e exibir os bens que tem à sua guarda. O Museu Joaquim Manso, na Nazaré, alberga um vasto acervo ligado não só à história daquela pequena região, mas sobretudo no que diz respeito à faina da pesca, indo o seu conteúdo dos trajes às embarcações. O Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa, em Braga, construído por forma a preservar e valorizar uma ruína romana, apresenta ao público, para além desta dita ruína, incorporada no edifício, um vasto conjunto de vestígios que atestam a presença deste povo, e quem vão desde as lápides a marcos miliários.

4.2.2.  Território Museu
O território-museu é “uma zona que se mantém coesa por vínculos históricos, geográficos, com recursos patrimoniais e elementos que lhe conferem uma identidade própria” (Ballart e Juan, 2008:184 – tradução adaptada). Podemos referir, a título de exemplo, a vila de Evoramonte, cuja história está ligada ao acordo de paz que meteu cobro à Guerra Civil no início do séc. XIX. A Vila de Óbidos será um outro exemplo, onde para manter as características do povoado intramuralhas, a autarquia deu aos proprietários cal para serem pintados os edifícios. Um outro exemplo passível de enquadrar nesta categoria será a aldeia do Piódão. Em todos estes exemplos a experiência adquire-se sobretudo pela deambulação nos locais – no território.


4.2.3. Casas-museu
A casa-museu é um edifício tratado museologicamente, em que se mantém o estilo de habitação de determina personalidade ilustre que aí viveu, mantendo viva a sua memória e a importância que esta assume. Podemos assumir como exemplos a Casa-Museu Camilo Castelo Branco (em S. Miguel de Seide) ou a Casa-Museu Carlos Relvas (na Golegã).  
Poderá ser também uma casa típica de determinada comunidade, mostrando assim algumas das “tradições” domésticas da região onde se insere. Um exemplo será a Casa-Museu da Madalena, na Rebolaria (Batalha).

4.2.4.Centro de Interpretação
Os centros de interpretação utilizam variados meios (nomeadamente tecnológicos) para que o visitante possa ter conhecimento de determinado assunto ou facto. A grande diferença em relação aos museus é a sua ausência total ou parcial de espólio. Quando este existe, é relegado para um segundo plano. Podemos tomar como exemplo o Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota. O espólio aqui existente do dia da batalha é bastante reduzido (alguns ossos encontrados em escavações arqueológicas e estruturas defensivas do dia da batalha), mas está aqui reunida bastante informação sobre a batalha, o movimento das tropas, a conjuntura que conduziu a esta e como ficou o país após este conflito. É igualmente mostrado ao visitante um espetáculo multimédia, onde o visitante asiste a uma reconstituição da batalha.

4.2.5. Património in situ
O património in situ é aquele que está edificado e que o visitante tem acesso no próprio local. Tem três níveis de tratamento.
O primeiro, mais básico, trata apenas em ter o património per si, sem nenhum apoio ao visitante. Pode estar aberto ou não. Um exemplo será a Capela da Sr.ª do Monte, nas Cortes – Leiria. Apesar de ser um edifício antigo, com uma dimensão histórica, religiosa e etnográfica, não consegue passar estes discurso, na sua grande parte, para os visitantes.
O segundo nível, complementar, assistimos a uma inclusão de alguns elementos que podem ajudar o visitante a compreender os locais que estão a visitar. Falamos da distribuição de mapas, colocação de sinalética (tanto indicativa de direções, como painéis explicativos). Um exemplo será a Quinta da Regaleira, onde à entrada é distribuído um mapa aos visitantes para que não só não se percam na imensidão do espaço, como também o possam compreender um pouco melhor.

O terceiro nível, a musealização, assistimos à criação de um discurso museográfico, inclusivamente algumas alterações no edifício para o albergar. Um dos exemplos que poderemos mencionar será a Sé de Braga, com o Museu do Tesouro da Sé. Para além do próprio bem patrimonial – a Sé – foi construído um museu, que alberga um largo espólio religioso deste local, e que cria um discurso ao visitante que permite conhecer melhor a mais antiga Sé portuguesa.


terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Como Interpretar e Valorizar o Património - Sessão Técnica na Escola de Hotelaria de Fátima - Parte II

3. A importância do património

3.1. Para as comunidades
O património assume-se, antes de tudo, como um alicerce para as identidades. Com efeito, este é responsável pelos sentimentos de pertença e apenas se pode considerar património determinado bem quando a sua comunidade (seja um aldeia,  um bairro ou um país) se revê nele. Contudo, tudo isto não implica a perda de função turística do património – muito pelo contrário. A autenticidade das manifestações em torno do património trará mais benefícios para as comunidades que malefícios. 


Tomando como exemplo específico a procissão dos caracóis, no Reguengo do Fetal, esta será uma grande base da identidade da sua população, não só pela unicidade deste, com também pelo espirito de trabalho coletivo que encerra. Por outro lado, é pela sua própria singularidade e autenticidade com que ainda hoje se pratica que poderá despertar a vontade de ser conhecida e visitada por pessoas com motivações turísticas.

3.2. Para o turismo
O património assume-se essencialmente como um dos mais importantes produtos turísticos dentro da corrente do chamado “Novo Turismo”. Em oposição a este, o chamado “Turismo Tradicional”, muito virado para as massas e para o turismo de sol e mar, também já fazia uso do património, ainda que de uma forma pouco sustentada. Com efeito, do ponto de vista do turismo tradicional, podemos considerar o usufruto do património dentro do grande chavão das viagens organizadas em autocarros, em que estes despejavam cerca de 40 a 50 pessoas junto a grandes e vistosos monumentos e em que estes faziam visitas rápidas, devido à apertada agenda diária que por norma norteiam estes grupos. Assim, não existe tempo para deixar divisas junto do comércio tradicional, nomeadamente em restauração com gastronomia típica (uma outra forma de património muitas vezes gorada), ou nas lojas de souvenirs.



Por outro lado, associado ao conceito de must see sight (aquilo que tem de ser visto), existe uma grande sobrecarga dos destinos ou de certos pontos destes, onde há uma exacerbada vontade de  mostrar que se esteve em determinado local. É o caso, por exemplo, da Torre Eiffel, em Paris, em que são mais que comuns as fotos com esta em pano de fundo. 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Como Interpretar e Valorizar o Património - Sessão Técnica na Escola de Hotelaria de Fátima - Parte I

1. O que é o património
Antes de tudo importa perceber a origem do termo “património” para perceber o que quer dizer. “Património” é uma palavra composta, derivada de dois étimos latinos (pater+monium). Pater quer dizer “pais” e monium “herança”. O património quer dizer assim aquilo que provém dos pais, não no sentido da conceção física, mas sim da herança social que recebemos dos nossos antepassados.

Para além disto, importa perceber que o património tem sempre uma dimensão imaterial. Pegando num exemplo concreto – um castelo – este resulta de um amontoado ordeiro de pedras. Contudo, essas pedras têm uma importância, pelo papel que assumiram na defesa de determinada localidade. Contudo, não deixam de ser pedras. É o que está para lá das pedras, ou seja, o papel que assumiu na história, que tornam aquele castelo importante, e é essa sua dimensão – imaterial – que o tornam património.



Quando nasceu a preocupação pela conservação e defesa do património, passou a considerar-se como bem patrimonial os grandes monumentos, associados aos grandes feitos da nação, com um forte valor artístico. Um destes exemplos será o do Mosteiro da Batalha, uma obra-prima do gótico português, associada à Batalha de Aljubarrota (onde se consolidou a independência de Portugal) e onde nasceu a corrente decorativa do início do séc. XVI – o Manuelino. Contudo, num alargamento do conceito de património, passou a considerar-se como centralidade do património a atividade quotidiana do homem. A arte vernácula, ou seja, a produção artesanal de bens, assume aqui um papel preponderante, aliado à forte componente imaterial que os bens têm. São exemplos objetos domésticos ou os próprios “saber-fazer”.

Um bem poderá ser considerado património quando o seu valor simbólico ultrapassar o seu valor de uso e formal, isto é, quando não tiver um “preço”. Quando o seu valor for de tal ordem, que não exista vontade de o alienar e que esse cenário não seja sequer posto em questão.


2. Que tipos de património existem?
Em primeiro lugar, não temos o hábito, por preciosismo académico, utilizar o termo “património cultural”, por considerarmos, a par com alguns investigadores da área, que todo o património tem uma dimensão cultural, pelo que essa mesma designação resultará numa redundância.

O património pode dividir-se em material e imaterial. Contudo, como já referimos, um determinado bem pode ter uma dimensão material e imaterial, sendo esta forma imaterial o que confere a importância a determinado bem. No campo do património material, podemos encontrar, entre outras, as seguintes tipologias de património:

- Industrial (moinhos, lagares, adegas, unidades fabris)
- Militar (fortes, castelos, muralhas)
- Religioso (igrejas, capelas, imagens de santos)
- Artístico (pinturas, arquitetura, esculturas)
- Natural (praias, pegadas de dinossáurios, matas)
- Urbano e Civil (palácios, solares, estátuas, pontes)
- Científico (antigos laboratórios)
- Administrativo e estatal (tribunais, Assembleia da República)
- Arqueológico (ruínas romanas e por definição todo o bem que tem mais de cem anos).

 

De todos estes, o património natural é o único em que não há intervenção do homem, tendo este apenas o papel de o conservar. No que diz respeito ao património imaterial, podemos encontrar as seguintes tipologias:

- Música (fado, fandango, verde-gaio, entre outros)
- Dança (associada à música que se pode dançar – o caso do fandango e do verde-gaio).
- Gastronómico (o património que se destina a ser comido – logo material. Todavia, o património encontra-se na mão do cozinheiro que produz o prato, isto é, no saber fazer).
- Ritos Religiosos (procissões, via-sacra)
- Estórias (contos, vivências dos tempos antepassados, anedotas)
- Lendas.



Da mesma forma que não existe, muitas vezes, uma fronteira entre o património material e imaterial, esta esbate-se ainda mais entre as várias tipologias de património. Com efeito, um mesmo bem – por exemplo os Painéis de S. Vicente de Fora, atribuídos a Nuno Gonçalves – é ao mesmo tempo património religioso (por fazerem parte do retábulo de uma igreja) e artístico (tendo em conta que são uma pintura, expressão da arte de uma época específica). Tendo presente que todo o bem com mais de cem anos é arqueológico por definição, podemos ainda considerar este bem como sendo património arqueológico.


Por esta forma, podemos considerar o património como algo pontuado pela diversidade e pela versatilidade.