1. O que é o
património
Antes
de tudo importa perceber a origem do termo “património” para perceber o que
quer dizer. “Património” é uma palavra composta, derivada de dois étimos
latinos (pater+monium). Pater quer dizer
“pais” e monium “herança”. O
património quer dizer assim aquilo que provém dos pais, não no sentido da
conceção física, mas sim da herança social que recebemos dos nossos
antepassados.
Para
além disto, importa perceber que o património tem sempre uma dimensão
imaterial. Pegando num exemplo concreto – um castelo – este resulta de um
amontoado ordeiro de pedras. Contudo, essas pedras têm uma importância, pelo
papel que assumiram na defesa de determinada localidade. Contudo, não deixam de
ser pedras. É o que está para lá das pedras, ou seja, o papel que assumiu na
história, que tornam aquele castelo importante, e é essa sua dimensão –
imaterial – que o tornam património.
Quando
nasceu a preocupação pela conservação e defesa do património, passou a
considerar-se como bem patrimonial os grandes monumentos, associados aos
grandes feitos da nação, com um forte valor artístico. Um destes exemplos será
o do Mosteiro da Batalha, uma obra-prima do gótico português, associada à
Batalha de Aljubarrota (onde se consolidou a independência de Portugal) e onde
nasceu a corrente decorativa do início do séc. XVI – o Manuelino. Contudo, num
alargamento do conceito de património, passou a considerar-se como centralidade
do património a atividade quotidiana do homem. A arte vernácula, ou seja, a
produção artesanal de bens, assume aqui um papel preponderante, aliado à forte
componente imaterial que os bens têm. São exemplos objetos domésticos ou os
próprios “saber-fazer”.
Um
bem poderá ser considerado património quando o seu valor simbólico ultrapassar
o seu valor de uso e formal, isto é, quando não tiver um “preço”. Quando o seu
valor for de tal ordem, que não exista vontade de o alienar e que esse cenário
não seja sequer posto em questão.
2. Que tipos de
património existem?
Em
primeiro lugar, não temos o hábito, por preciosismo académico, utilizar o termo
“património cultural”, por considerarmos, a par com alguns investigadores da
área, que todo o património tem uma dimensão cultural, pelo que essa mesma
designação resultará numa redundância.
O
património pode dividir-se em material e imaterial. Contudo, como já referimos,
um determinado bem pode ter uma dimensão material e imaterial, sendo esta forma
imaterial o que confere a importância a determinado bem. No campo do património
material, podemos encontrar, entre outras, as seguintes tipologias de
património:
-
Industrial (moinhos, lagares, adegas, unidades fabris)
-
Militar (fortes, castelos, muralhas)
-
Religioso (igrejas, capelas, imagens de santos)
-
Artístico (pinturas, arquitetura, esculturas)
-
Natural (praias, pegadas de dinossáurios, matas)
-
Urbano e Civil (palácios, solares, estátuas, pontes)
-
Científico (antigos laboratórios)
-
Administrativo e estatal (tribunais, Assembleia da República)
-
Arqueológico (ruínas romanas e por definição todo o bem que tem mais de cem
anos).
De
todos estes, o património natural é o único em que não há intervenção do homem,
tendo este apenas o papel de o conservar. No que diz respeito ao património
imaterial, podemos encontrar as seguintes tipologias:
-
Música (fado, fandango, verde-gaio, entre outros)
-
Dança (associada à música que se pode dançar – o caso do fandango e do
verde-gaio).
-
Gastronómico (o património que se destina a ser comido – logo material.
Todavia, o património encontra-se na mão do cozinheiro que produz o prato, isto
é, no saber fazer).
-
Ritos Religiosos (procissões, via-sacra)
-
Estórias (contos, vivências dos tempos antepassados, anedotas)
-
Lendas.
Da
mesma forma que não existe, muitas vezes, uma fronteira entre o património
material e imaterial, esta esbate-se ainda mais entre as várias tipologias de
património. Com efeito, um mesmo bem – por exemplo os Painéis de S. Vicente de
Fora, atribuídos a Nuno Gonçalves – é ao mesmo tempo património religioso (por
fazerem parte do retábulo de uma igreja) e artístico (tendo em conta que são
uma pintura, expressão da arte de uma época específica). Tendo presente que
todo o bem com mais de cem anos é arqueológico por definição, podemos ainda
considerar este bem como sendo património arqueológico.
Por
esta forma, podemos considerar o património como algo pontuado pela diversidade
e pela versatilidade.
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