quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Como Interpretar e Valorizar o Património - Sessão Técnica na Escola de Hotelaria de Fátima - Parte III

4. O tratamento do Património
4.1. Classificações oficiais
Sobre este tema, caiba a referência que ao longo dos tempos se alteraram constantemente as designações das classificações, sobre dos Monumentos de Interesse Municipal (que já foram Imóveis de Interesse Municipal e Imóveis de Valor Concelhio) e dos Monumentos de Interesse Público (que já foram Imóveis de Interesse Público).

4.1.1. Monumento de Interesse Municipal
São bens que têm um grande interesse sobretudo à escala local, isto é, não têm grande relevância no panorama nacional, contudo, têm uma forte importância a nível local, pelas mais diversas razões. Por esta razão, são classificações atribuídas pelos municípios. A existência de bens com esta classificação nos municípios está dependente da sensibilidade para as questões patrimoniais de quem os gere, e não tanto da existência ou não de património nos territórios.


Um exemplo poderá ser a Capela do Calvário, no concelho de Almeirim, que é um marco nas celebrações religiosas da Semana Santa na cidade. Por outro lado, podemos mencionar a Casa de Manuel Vieira Natividade, em Alcobaça, que marca o local onde viveu uma importante personalidade desta localidade do início do séc. XX.

4.1.2. Monumento de Interesse Público
Esta classificação é dada pelo poder central, neste momento pela DGPC, organismo estatal responsável pelo património nacional. Alguns exemplos que poderemos apontar serão o Pelourinho de Porto de Mós, uma Janela Manuelina, em Santarém, ou os Frescos de Santo Agostinho e de Santo Ambrósio, na Capela de Nossa Senhora da Conceição, concelho de Ourém. Sobre estes últimos, torna-se importante mencionar que a classificação é apenas dos frescos, e não da capela.

     

4.1.3. Monumentos Nacionais
Esta é a mais alta classificação atribuída pelo estado Português. Numa primeira fase da consciência patrimonial, sobretudo durante a Primeira República e o Estado Novo, era atribuída sobretudo aos grandes monumentos, associados aos grandes feitos da nação. São exemplos deste período o Castelo de Ourém ou a Torre das Cabaças, em Santarém.

Com o advento da nova consciência pelos bens patrimoniais, passaram a ser mais apertados os critérios de classificação, passando os bens que detêm esta classificação a ser conhecidos pela sua singularidade e importância coletiva. A recentemente classificada Sé de Leiria, juntamente com a Torre Sineira e a Casa do Sineiro, tem como particularidade o facto da Torre Sineira estar fisicamente separada e ainda relativamente distante do edifício principal da Sé. Apesar de não ser o fator determinante, foi este um dos aspetos que marcou a classificação deste edifício na cidade de Leiria.

4.1.4. Património da Humanidade
As classificações como Património da Humanidade são dadas pela UNESCO, organismo da ONU. São bens excecionais, para a humanidade, e que gozam de proteção internacional. Em Portugal existem 14 bens com esta classificação (entre culturais, naturais e mistos), aos quais se junta o Fado, como património imaterial da Humanidade. São exemplos, entre outros, os Mosteiros de Alcobaça e da Batalha e o Convento de Cristo, em Tomar.


4.2. Instituições que tratam e divulgam o património
4.2.1. Museu
O Museu é um lugar onde está exposto um determinado espólio. Esse mesmo espólio, pela maneira como é apresentado, um discurso ao visitante. A principal missão do museu é conservar, estudar e exibir os bens que tem à sua guarda. O Museu Joaquim Manso, na Nazaré, alberga um vasto acervo ligado não só à história daquela pequena região, mas sobretudo no que diz respeito à faina da pesca, indo o seu conteúdo dos trajes às embarcações. O Museu Arqueológico D. Diogo de Sousa, em Braga, construído por forma a preservar e valorizar uma ruína romana, apresenta ao público, para além desta dita ruína, incorporada no edifício, um vasto conjunto de vestígios que atestam a presença deste povo, e quem vão desde as lápides a marcos miliários.

4.2.2.  Território Museu
O território-museu é “uma zona que se mantém coesa por vínculos históricos, geográficos, com recursos patrimoniais e elementos que lhe conferem uma identidade própria” (Ballart e Juan, 2008:184 – tradução adaptada). Podemos referir, a título de exemplo, a vila de Evoramonte, cuja história está ligada ao acordo de paz que meteu cobro à Guerra Civil no início do séc. XIX. A Vila de Óbidos será um outro exemplo, onde para manter as características do povoado intramuralhas, a autarquia deu aos proprietários cal para serem pintados os edifícios. Um outro exemplo passível de enquadrar nesta categoria será a aldeia do Piódão. Em todos estes exemplos a experiência adquire-se sobretudo pela deambulação nos locais – no território.


4.2.3. Casas-museu
A casa-museu é um edifício tratado museologicamente, em que se mantém o estilo de habitação de determina personalidade ilustre que aí viveu, mantendo viva a sua memória e a importância que esta assume. Podemos assumir como exemplos a Casa-Museu Camilo Castelo Branco (em S. Miguel de Seide) ou a Casa-Museu Carlos Relvas (na Golegã).  
Poderá ser também uma casa típica de determinada comunidade, mostrando assim algumas das “tradições” domésticas da região onde se insere. Um exemplo será a Casa-Museu da Madalena, na Rebolaria (Batalha).

4.2.4.Centro de Interpretação
Os centros de interpretação utilizam variados meios (nomeadamente tecnológicos) para que o visitante possa ter conhecimento de determinado assunto ou facto. A grande diferença em relação aos museus é a sua ausência total ou parcial de espólio. Quando este existe, é relegado para um segundo plano. Podemos tomar como exemplo o Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota. O espólio aqui existente do dia da batalha é bastante reduzido (alguns ossos encontrados em escavações arqueológicas e estruturas defensivas do dia da batalha), mas está aqui reunida bastante informação sobre a batalha, o movimento das tropas, a conjuntura que conduziu a esta e como ficou o país após este conflito. É igualmente mostrado ao visitante um espetáculo multimédia, onde o visitante asiste a uma reconstituição da batalha.

4.2.5. Património in situ
O património in situ é aquele que está edificado e que o visitante tem acesso no próprio local. Tem três níveis de tratamento.
O primeiro, mais básico, trata apenas em ter o património per si, sem nenhum apoio ao visitante. Pode estar aberto ou não. Um exemplo será a Capela da Sr.ª do Monte, nas Cortes – Leiria. Apesar de ser um edifício antigo, com uma dimensão histórica, religiosa e etnográfica, não consegue passar estes discurso, na sua grande parte, para os visitantes.
O segundo nível, complementar, assistimos a uma inclusão de alguns elementos que podem ajudar o visitante a compreender os locais que estão a visitar. Falamos da distribuição de mapas, colocação de sinalética (tanto indicativa de direções, como painéis explicativos). Um exemplo será a Quinta da Regaleira, onde à entrada é distribuído um mapa aos visitantes para que não só não se percam na imensidão do espaço, como também o possam compreender um pouco melhor.

O terceiro nível, a musealização, assistimos à criação de um discurso museográfico, inclusivamente algumas alterações no edifício para o albergar. Um dos exemplos que poderemos mencionar será a Sé de Braga, com o Museu do Tesouro da Sé. Para além do próprio bem patrimonial – a Sé – foi construído um museu, que alberga um largo espólio religioso deste local, e que cria um discurso ao visitante que permite conhecer melhor a mais antiga Sé portuguesa.


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