Este é um pequeno livro lançado em maio de 2016, da autoria
da neta de um moleiro e que retrata um moinho – o moinho do seu avô. Não é um
tratado sobre molinologia nem tão pouco a análise e o enquadramento deste
moinho dentro da área disciplinar na molinologia. Se o tivéssemos de definir duas
palavras, essas seriam “memória” e “identidade”.
Com efeito, este livro é um relato do que é o Moinho do
Xico, não de um estranho qualquer, mas de quem o vê de dentro, não só como
estrutura económica, que garante (ou garantiu) o sustento da casa, mas que mais
que isso (ou talvez precisamente por isso), como algo que cria laços
afetivo-identitários com o mesmo. Ninguém conseguiria escrever este livro desta
forma sem ser a própria autora, porque o “eu” da Vera Silva atravessa toda a
obra. Este livro é a preservação da sua memória e da identidade da família que
vive em torno daquele engenho.
Ainda que nunca venha a ser assumido como tal, esta obra é
um pequeno “tijolo” na construção do projeto da candidatura dos Moinhos de
Vento do Oeste a Património Imaterial da Humanidade. Uma candidatura deste
género deverá primar pelo que têm de diferente estes moinhos dos demais, pelo
que está além dos moinhos. Esta obra assume-se como a passagem à escrita do que
diferencia o Moinho do Xico de todos os outros moinhos. O alicerce identitário
que o mesmo cria para a família que esteve, economicamente falando, dependente
dele. E é este o ponto de partida: se os seus não o souberem valorizar, ninguém
o saberá fazer.
Fotografia da página do facebook do Moinho do Boneco.